domingo, 17 de outubro de 2010

Contando a minha história

Gostaria de compartilhar com vocês aqui a história da minha vida. Acho que com isso além de vocês me conhecerem um pouco melhor vai me permitir refletir um pouco sobre como foi minha trajetória até aqui.

Esta idéia surgiu após uma conversa com uma amiga, também deficiente visual, sobre nossas histórias. Além de ficar ainda mais fã dela, pois tem uma história muito bonita, ela gostou muito da forma que contei minha história e de como sou consciente de que tive muita sorte em minha vida.

Começarei com minha infância então.

Nasci em 78 e meus pais foram desacreditados pelos médicos em relação a minha visão. Todos afirmavam que eu era cego e que não havia nada que pudesse ser feito em relação a isso.

Mas minha sorte permitiu que eles encontrassem um oftalmologista que viu uma possibilidade. Passei aos 20 dias de nascido por uma cirurgia que me permitiu ter 30% da visão do olho esquerdo. Ao me entregar aos meus pais ainda disse: “Ele será um campeão”. E foi assim que ele me chamou durante os 25 anos em que me tratei com ele.

Meus pais mesmo sem experiência já que sou o filho mais velho de três irmãos, tiveram muito talento em me educar. Sempre fui tratado como uma criança normal, guardadas suas devidas proporções, e muito amado e querido por todos os familiares.

Minha curiosidade não é de hoje e desde pequeno dei muito trabalho. Quebrei muitas coisas em casas de tios e tias enquanto aprendia a andar e tatiava tudo para conhecer o ambiente, jhá que só enxergava de muito perto.

Meus primos só vieram mais tarde, tem em sua maioria a idade do meu irmão do meio, e por isso não tinha muitas crianças para brincar. Foi por este motivo que me aproximei mais da televisão.

Aos três anos, me relatam, eu já sabia de cor a sequência completa da programação da TV e o pior, mesmo sem saber ler horas era capaz de dizer o que estava passando mesmo com a TV desligada.

Meus pais, mesmo de uma família humilde, nunca pouparam esforços para me dar uma boa educação, e por este motivo estudei em um Jardim de Infância com atividades extra curriculares. Nessa idade por exemplo, eu já sabia pelo menos umas 20 palavras em inglês. Isto também me ajudou a começar a me relacionar com outras crianças e entender quem e o que eu era.

Aos 5 anos fiz Pré-Escola onde começou minha alfabetização. Foi uma época em que aumentei ainda mais o meuconvivio social já que além dos amigos de sala, tinha perua escolar o que me fez ter inclusive minha primeira briga com outra criança. Nada sério, mas era interessante pois eu começava a formar minha personalidade e já não aceitava piadinhas de mau gosto a meu respeito.

Por estudar em escola particular consegui entrar na primeira série do Ensino Fundamenal aos 6 anos. Lá comecei a ter acesso a mais informações pois o curriculoescolar era mais exigentes. Lá comecei a perceber o preconceito de algumas crianças, não só em relação a minha deficiência, mas também a minha classe social. Realmente educação vem de berço.

Nesta mesma idade tive minha primeira paixão, e minha primeira namoradinha de infância, e detalhe, ela era mais velha. Isso explica muita coisa hoje.

Também nesta época ganhei meu primeiro videogame. Foi muito importante pois nesta época eu era muito sozinho. Isto despertou muito meus outros sentidos, minha capacidade de raciocínio, e meu interesse por eletrônicos.

Minha mãe sempre foi muito exigente com meus estudos. Lembro que apanhei muito para começar entrar na linha, mas quando realmente comecei a aprender e peguei gosto rapidamente me tornei o melhor aluno da sala.

Isto começou quando feriam meu orgulho na segunda série, em uma outra escola, em um outro bairro.

A professora chamou minha mãe na escola, e na minha frente disse que eu deveria ir para uma escola especial pois eu nãoteria capacidade de acompanhar os outros alunos. Isto devido a minha dificuldade de copiar a lição do quadro e minha letra.

Minha mãe não aceitou o que ela disse e disse que em um mês provaríamos que ela estava errada. Compramos um caderno de caligrafia e eu adotei a seguinte postura: ia até o quadro, lia toda uma parte (os professores costumavam dividir o quadro em quatro para saber mais ou mesmo onde parar de escrever para formar como se fosse uma folha) e então eu retornava a minha cadeira para escrever tudo que havia lido. Isto desenvolveu enormemente a minha memória, o que me tirava a necessidade de ter de estudar antes de uma prova.

Já nesta época me apaixonei pela matemática. Todos se impressionavam com a velocidade que eu calculava, inclusive equações bem complicadas para uma criança de apenas oito anos.

Tive nessa época também meu primeiro contato com outra criança com deficiência. Na sala tinha uma menina com deficiência intelectual, ela tinha, se não me engano, 14 anos, mas estudava na segunda série com a gente.

Ficamos amigos, descobri que ela morava na mesma rua que eu e começamos ap assar um bom tempo juntos. Mesmo tendo deficiências diferentes no entendíamos perfeitamente jáque de certa forma passávamos pelasmesmas coisas. Era realmente uma pessoa muito especial.

Nesta época tive um namorico com uma menina da sala, fomos par na festa junin e seriamos os pais da noiva, mas no dia da festa a noiva adoeceu e passamos a ser os noivos. Meu primeiro beijo nela acabou sendo em público .

No meuio do ano da terceira série meus pais tiveram que se mudar, e para que eu não perdesse o ano letivo, morei por seis meses na casa da minha avó. Uma cosia legal que lembro dessa época é que meu tio melevava para a escola de bicicleta.

Na quarta série eu já era uma criança altamente sociável, viva rodiado de amigos e já havia aprendido que eu chamava a atenção da mulherada. Isto ficou muito nítido quando por sugestão de uma professora, tentássemos a abordagem de alguém sentar comigo e me ditar o que estava no quadro ao invés de eu ter de levantar todas as horas.

Desde essa época eu que não sou nenhum pouco bobo logicamente escolhi a mais bonita.

Nessa época aprendi a andar de bicicleta e andava apenas em uma rua fechada perto da casa onde eu morava. Alias nesta época eu comecei a criar coragem e independência para andar sozinho. Ia na casa da minha avó, na padaria, e na casa de uma amiga fazer trabalhos mas desde que eu não precisassse atravessar ruas.

Mais uma demonstração da minha sorte foi que nesta época uma escola de computação, coisa totalmente nova pra época, fez propaganda na sala de aula e deu uma bolsa para a professora. Sem nenhum motivo aparente além do de que ela gostava muito de mim, ela deu esta bolsa de estudo para minha mãe, que me matriculou. Foi lá que comecei a ter contato com os computadores, aprendi o básico de programação e decidi o que iria ser quando crescer.

Continuo esta história no próximo post.

Nenhum comentário:

Postar um comentário