terça-feira, 26 de outubro de 2010

Contando minha história–parte 3

Bom como estava dizendo no primeiro post, com a entrada no curso de informática na quarta série comecei a me interessar ainda mais por lógica, matemática e tecnologia em si.

Aos onze anos ganhei dos meus pais meu primeiro computador, um TK 85, que para quem não conhece é um computador pessoal que você ligava na televisão e que diferente dos computadores de hoje tinha apenas um interpretador da linguagem BASIC na ROM, ou seja, para começar a utilizá-lo era necessário ter um mínimo de conhecimento em programação de computadores.

Isto me incentivou muito a estudar. Passava quase o dia todo tentando resolver problemas escolares e até mesmo desenvolvi um sistema para cálculo de imposto de renda onde tudo ainda era feito a mão e em formulários de papel.

Nesta época eu já não tinha a menor dúvida de que era com isso que eu queria trabalhar.

Ao mesmo tempo, em paralelo, começava uma nova fase em minha vida. Nos mudamos para onde é hoje a casa da minha mãe, e pelas condições dos meus pais na época, era uma casa ainda em fase de acabamento, com apenas uma sala bem grande na qual foi transformada em quarto da família, uma cozinha, o banheiro e a área de serviço.

Para ter uma idéia, quando nos mudamos nem contra piso tínhamos ainda no banheiro, pois ainda estávamos aguardando achegada dos pisos e azuleijos.

Não comentei, mas anteriormente morávamos em um imóvel do meu tio, que ficava em cima de sua farmácia e que tinha apenas um cômodo e cozinha, mas que ficava aos fundos de dois consultórios médicos o que nos fazia ter um silêncio mórbido dentro de casa. Isto era agravado ainda pelo fato do meu pai trabalhar a noite, o que ajudava no orçamento doméstico, mas que tornava o relacionamento com meus pais, já que minha mãe também trabalhava, cada vez mais distante.

Alias isto é um ponto interessante e que me ajudou muito a formar meu caráter e desde cedo me dar a base para independência.

Meus pais, com três filhos, tinham que trabalhar bastante e por este motivo passava boa parte do tempo sozinho em casa. Por algum tempo fomos criados por parentes ou pessoas que meus pais contratavam, mas como estas pessoas nem sempre davam a mesma atenção, aprendi a me virar sozinho desde pequeno.

Mas enfim, om ia dizendo, casa nova também leva a escola nova. Só que desta vez, em um bairro de periferia, com crianças que já estudavam juntas praticamente desde a primeira série, enfrentei logo decara muito preconceito.

Além da deficiência era tratado como riquinho já que ganhava materiais escolares, muitas vezes usados, de meus tios e primos.

Mas como já tinha uma consciência social melhor, logo comecei a fazer amizades, logicamente com outros que também sofriam preconceitos.

O engraçado é que desde cedo eu surpreendia pelas minhas capacidades. Apesar de todo ambiente hostil, tirava as melhores notas, era sempre elogiado nas reuniões de pais e filhos, e como minha mãe acabou conhecendo outras mães, isto começou a me colocar dentro dos grupos que antes me excluíam.

Foi assim que comecei grandes amizades, algumas que mantenho aé hoje, outras que infelizmente por motivos diversos já não tenho mais contatos.

Caramba escrevi tanto e ainda estou na quinta série. No próximo post continuo esta fase da minha vida. Nela tenho muita história boa.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Contando minha história – parte 2

É isso ai pessoal, vou contar mais alguns fatos da minha história pra vocÊs me conhecerem um pouco melhor.

Na verdade vou falar de algumas coisas que aprontei no período do primeiro post.

Como eu já disse, era uma criança bem curiosa e levada. Vivia desmontando as coisas pra saber como elas funcionavam e com isso destroi um monte de brinquedos.

Lembro de ter quebrado sem querer meu Aquamóvel, um carrinho movido a pilhas e que funcionava soment quando você colocava água no seu tanque de combustível. Era bem legal.

Bom, eu deixei um pouco de água dentro dele sem querer e coloquei na comoda pra guardar, ele ligou sozinho e caiu. Fiquei triste na hora, mas ao mesmo tempo ganhei um novo brinquedo, afinal pude analisar como ele era por dentro e tudo mais.

Outra que aprontei foi com meu tio, o da bicicleta. Quando eu tinha uns 4/5 anos eu comecei a brincar com aqueles ascendedores de fog~~ao.

Ai lembrei de um desenho animado que eu tinha assistido, que o personagem, que não lembro qual agora, tinha colocado uns fósforos nos pés do outro personagem e ascendido enquanto ele dormia. Adivinha? Ele acordou com uma baita labareda nos pés.

Aos 3 anos também meu tiotinha uma rack que não era nem um pouco seguro, e todos me alertavam, mas eu adorava ir la fuçar na TV. Um belo dia minha mãe entra na sala e ve a TV no chão e embaixo dela dois braços e duas pernas se mexendo.

Minha mãe conta também que eu quando comecei a andar e falar tomava meu suco e perguntava: Mãe o que eu faço com o copo? E ela falava joga na pia. Nem preciso falar quantos copos eu quebrei ne?

Realmente eu era uma criança muito feliz. Não tinha preocupações e não estava nem ai por causa da minha deficiência. Alias isso é uma cosia muito legal entre as crianças deficientes, elas sem querer, com toda sua simplicidade conseguem superar todos os limites.

E só pra esclarecer a duvida de um amigo, quando eu disse que chamava atenção da mulherada, não é que eu era garanhão, mas a mulherada adorava me ajudar, achava bonitinho. Ai eu tirava vantagem né, pois sempre podia escolher aajuda das mais bonitinhas.

Apesar que como eu ja disse pra vocÊs, o conceito de beleza mudou muito pra mim em todos estes anos.

domingo, 17 de outubro de 2010

Contando a minha história

Gostaria de compartilhar com vocês aqui a história da minha vida. Acho que com isso além de vocês me conhecerem um pouco melhor vai me permitir refletir um pouco sobre como foi minha trajetória até aqui.

Esta idéia surgiu após uma conversa com uma amiga, também deficiente visual, sobre nossas histórias. Além de ficar ainda mais fã dela, pois tem uma história muito bonita, ela gostou muito da forma que contei minha história e de como sou consciente de que tive muita sorte em minha vida.

Começarei com minha infância então.

Nasci em 78 e meus pais foram desacreditados pelos médicos em relação a minha visão. Todos afirmavam que eu era cego e que não havia nada que pudesse ser feito em relação a isso.

Mas minha sorte permitiu que eles encontrassem um oftalmologista que viu uma possibilidade. Passei aos 20 dias de nascido por uma cirurgia que me permitiu ter 30% da visão do olho esquerdo. Ao me entregar aos meus pais ainda disse: “Ele será um campeão”. E foi assim que ele me chamou durante os 25 anos em que me tratei com ele.

Meus pais mesmo sem experiência já que sou o filho mais velho de três irmãos, tiveram muito talento em me educar. Sempre fui tratado como uma criança normal, guardadas suas devidas proporções, e muito amado e querido por todos os familiares.

Minha curiosidade não é de hoje e desde pequeno dei muito trabalho. Quebrei muitas coisas em casas de tios e tias enquanto aprendia a andar e tatiava tudo para conhecer o ambiente, jhá que só enxergava de muito perto.

Meus primos só vieram mais tarde, tem em sua maioria a idade do meu irmão do meio, e por isso não tinha muitas crianças para brincar. Foi por este motivo que me aproximei mais da televisão.

Aos três anos, me relatam, eu já sabia de cor a sequência completa da programação da TV e o pior, mesmo sem saber ler horas era capaz de dizer o que estava passando mesmo com a TV desligada.

Meus pais, mesmo de uma família humilde, nunca pouparam esforços para me dar uma boa educação, e por este motivo estudei em um Jardim de Infância com atividades extra curriculares. Nessa idade por exemplo, eu já sabia pelo menos umas 20 palavras em inglês. Isto também me ajudou a começar a me relacionar com outras crianças e entender quem e o que eu era.

Aos 5 anos fiz Pré-Escola onde começou minha alfabetização. Foi uma época em que aumentei ainda mais o meuconvivio social já que além dos amigos de sala, tinha perua escolar o que me fez ter inclusive minha primeira briga com outra criança. Nada sério, mas era interessante pois eu começava a formar minha personalidade e já não aceitava piadinhas de mau gosto a meu respeito.

Por estudar em escola particular consegui entrar na primeira série do Ensino Fundamenal aos 6 anos. Lá comecei a ter acesso a mais informações pois o curriculoescolar era mais exigentes. Lá comecei a perceber o preconceito de algumas crianças, não só em relação a minha deficiência, mas também a minha classe social. Realmente educação vem de berço.

Nesta mesma idade tive minha primeira paixão, e minha primeira namoradinha de infância, e detalhe, ela era mais velha. Isso explica muita coisa hoje.

Também nesta época ganhei meu primeiro videogame. Foi muito importante pois nesta época eu era muito sozinho. Isto despertou muito meus outros sentidos, minha capacidade de raciocínio, e meu interesse por eletrônicos.

Minha mãe sempre foi muito exigente com meus estudos. Lembro que apanhei muito para começar entrar na linha, mas quando realmente comecei a aprender e peguei gosto rapidamente me tornei o melhor aluno da sala.

Isto começou quando feriam meu orgulho na segunda série, em uma outra escola, em um outro bairro.

A professora chamou minha mãe na escola, e na minha frente disse que eu deveria ir para uma escola especial pois eu nãoteria capacidade de acompanhar os outros alunos. Isto devido a minha dificuldade de copiar a lição do quadro e minha letra.

Minha mãe não aceitou o que ela disse e disse que em um mês provaríamos que ela estava errada. Compramos um caderno de caligrafia e eu adotei a seguinte postura: ia até o quadro, lia toda uma parte (os professores costumavam dividir o quadro em quatro para saber mais ou mesmo onde parar de escrever para formar como se fosse uma folha) e então eu retornava a minha cadeira para escrever tudo que havia lido. Isto desenvolveu enormemente a minha memória, o que me tirava a necessidade de ter de estudar antes de uma prova.

Já nesta época me apaixonei pela matemática. Todos se impressionavam com a velocidade que eu calculava, inclusive equações bem complicadas para uma criança de apenas oito anos.

Tive nessa época também meu primeiro contato com outra criança com deficiência. Na sala tinha uma menina com deficiência intelectual, ela tinha, se não me engano, 14 anos, mas estudava na segunda série com a gente.

Ficamos amigos, descobri que ela morava na mesma rua que eu e começamos ap assar um bom tempo juntos. Mesmo tendo deficiências diferentes no entendíamos perfeitamente jáque de certa forma passávamos pelasmesmas coisas. Era realmente uma pessoa muito especial.

Nesta época tive um namorico com uma menina da sala, fomos par na festa junin e seriamos os pais da noiva, mas no dia da festa a noiva adoeceu e passamos a ser os noivos. Meu primeiro beijo nela acabou sendo em público .

No meuio do ano da terceira série meus pais tiveram que se mudar, e para que eu não perdesse o ano letivo, morei por seis meses na casa da minha avó. Uma cosia legal que lembro dessa época é que meu tio melevava para a escola de bicicleta.

Na quarta série eu já era uma criança altamente sociável, viva rodiado de amigos e já havia aprendido que eu chamava a atenção da mulherada. Isto ficou muito nítido quando por sugestão de uma professora, tentássemos a abordagem de alguém sentar comigo e me ditar o que estava no quadro ao invés de eu ter de levantar todas as horas.

Desde essa época eu que não sou nenhum pouco bobo logicamente escolhi a mais bonita.

Nessa época aprendi a andar de bicicleta e andava apenas em uma rua fechada perto da casa onde eu morava. Alias nesta época eu comecei a criar coragem e independência para andar sozinho. Ia na casa da minha avó, na padaria, e na casa de uma amiga fazer trabalhos mas desde que eu não precisassse atravessar ruas.

Mais uma demonstração da minha sorte foi que nesta época uma escola de computação, coisa totalmente nova pra época, fez propaganda na sala de aula e deu uma bolsa para a professora. Sem nenhum motivo aparente além do de que ela gostava muito de mim, ela deu esta bolsa de estudo para minha mãe, que me matriculou. Foi lá que comecei a ter contato com os computadores, aprendi o básico de programação e decidi o que iria ser quando crescer.

Continuo esta história no próximo post.